Sinopse:
"No longínquo ano de 1506,
trinta e sete colonos moribundos foram forçados à desesperada tentativa de
povoar uma ilha amaldiçoada. Dizia-se, nessa época, que naquele gigantesco
amontoado de ravinas negras vogava a voz do Diabo. Quinhentos anos passados,
não existem documentos que descrevam o sinistro martírio coletivo, na tentativa
de povoamento dessa ilha maldita. Aliás, em nenhuma biblioteca do mundo se
descobriu uma única página contendo alusões ao sucedido. Em suma, ninguém
conhece a verdadeira localização da maligna massa insular, para sempre perdida
no meio do oceano. Durante os serões, o avô Vicente alerta Bernardino Gávea
para os perigos inerentes à convivência com a violência das vagas. O menino,
porém, não se amedronta. Pode ser a mais miserável das crianças, mas, por viver
num casebre encavalitado nas dunas, considera-se o legítimo dono de toda a
praia. Fascinado pelas narrativas náuticas, que o septuagenário lhe transmite,
sonha ser um intrépido conquistador dos mares — há-de conseguir, afinal, reencontrar
a ilha que o medo humano apagou dos mapas. Todos estamos sujeitos às ingratas
investidas do imprevisto. No mar ou em terra, a palavra vaga pode unir-se a
outras, numa sanguinária cumplicidade catastrófica, que culminará com a
materialização dos nossos piores pesadelos. Surgirão então vagas de desgraça,
vagas de infortúnio, vagas de desespero e desilusão. Nas páginas deste livro
poderemos esbarrar com os sonhos de uma criança miserável e viver as
preocupações do seu decrépito avô. Mas também teremos notícias de um assustador
mundo paralelo. Vindos de ilhas distantes, esvoaçam os gritos dos colonos
condenados, ressoam os cânticos melancólicos de musas moribundas, ouvem-se
fraudulentas vozes fantasmagóricas. E sobre as ondas do mar existem suspeitas
de poder eclodir, a qualquer momento, uma nefasta ofensiva de ninfas."
Ficha técnica:
Colecção: Esfera Contemporânea / 40
Páginas:384
Data de Publicação: Outubro de 2012
PVP: 17,90 euros
ISBN: 978-989-680-072-7
Opinião:
José Teles Lacerda define-se com
este livro como um contador de histórias. Aproveitando factos históricos criou
contos que o avô Vicente conta ao seu neto Bernardino Gávea. Seguimos os serões
do contador de histórias enquanto ele viaja no tempo para uma época de epopeias
portuguesas, no século XVI.
As personagens que o autor criou
têm vida própria. Mesmo as que apenas existem na cabeça do avô Vicente. Têm as
suas personalidades bem vincadas e com capacidade de decisão próprias. As que
habitam na época dos descobrimentos, são muito dominadas pelas suas
superstições, pelo que este livro toca muito na parte sobrenatural. O Demónio,
as sereias e dragões são apenas alguns dos “monstros” referidos no livro. O autor
também refere as tribulações que os cristãos novos sofreram em Portugal, na
época dos descobrimentos.
O livro em si tem um
desenvolvimento lento e um ritmo constante. Sem grandes momentos de climax. É um
livro harmonioso e calmo.
Quanto à linguagem que o autor
utiliza, é adequada à época em que se insere a acção, acabando assim por
enriquecer o vocabulário do leitor.
Enquanto livro de estreia José
Teles Lacerda encontra-se de parabéns.