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sábado, 27 de julho de 2013

Entrevista ao Paulo M. Morais, autor do romance "Revolução Paraíso"



Paulo M. Morais é um dos mais recentes autores Portugueses cujo livro tem tido sucesso em Portugal. "Revolução Paraíso" é o seu romance de estreia e já foi criticado aqui no Blog.
É com gosto que agradeço ao Paulo M. Morais pela sua disponibilidade.




1.       O tema 25 de Abril tem sido muito utilizado na literatura e explorado. Porque é que se baseou nesta época específica da história de Portugal.

A ideia nasceu de uma série de álbuns com recortes da imprensa que foram compilados pela minha avó no pós-25 de Abril. Quando ela me passou o arquivo, comecei a germinar, devagarinho, a possibilidade de aquelas notícias serem a base de um romance. A escrita do Revolução Paraíso acabou também por preencher o meu vazio de memórias sobre aquele período tão rico e inesgotável da nossa história.

2.       Tal como podemos ver no livro todo o processo criativo incluiu muita investigação, como é que encarou essa parte do trabalho.

À medida que lia os recortes de imprensa, ia apontando os acontecimentos que poderiam entrar no romance. Quis fugir um pouco à política e procurei privilegiar os episódios de cariz mais popular e caricato. Depois verifiquei e complementei a pesquisa inicial através da consulta de outros livros, entre os quais destaco o extraordinário “Os Dias Loucos do PREC”.

3.       De todas as etapas no processo criativo, qual foi a que menos gostou.

As sucessivas revisões são tão fundamentais quanto desesperantes. Houve alturas em que já não queria acrescentar ou retirar uma vírgula! Mas depois lá reunia forças para reler e alterar o manuscrito. Também foi complexo e trabalhoso tentar entrelaçar, no tempo e no espaço, os acontecimentos históricos com as personagens ficcionais.

4.       Como foi receber o sim da Porto Editora?

Extraordinário. Lutei muito por tentar ser publicado numa editora de prestígio e não podia ter ficado mais contente quando recebi a boa notícia. Nunca me hei de esquecer do dia em que fui recebido nas instalações da Porto Editora e me deram as boas vindas como um novo autor da casa. Só aquele momento provou-me que vale a pena batalhar pelos nossos objetivos e sonhos.

5.       Como é que organiza a sua vida pessoal e profissional com a vida de escritor.

A área do jornalismo, como muitas outras, tem sofrido uma enorme sangria nos últimos anos. Quando o trabalho escasseou, decidi encarar a situação como uma oportunidade e lancei-me à escrita do meu primeiro romance. Infelizmente, o tempo livre foi-se mantendo e eu continuei a aproveitá-lo para escrever ficção, alimentando a paixão que entretanto despertou.

6.       Em que ponto a sua formação académica o ajudou a escrever este romance.

Talvez no método com que abordei a escrita do romance, apostando no trabalho árduo em vez de ficar simplesmente a aguardar pela chegada da inspiração. Ser jornalista também me ajudou no campo da pesquisa e no estabelecimento de prazos a cumprir. Mas também foi preciso esquecer algumas regras da profissão, como a objetividade ou a escrita sintética, para deixar respirar o aspirante a escritor.

7.       Qual é a sua personagem preferida?

É ingrato ter de escolher uma personagem favorita. Até consigo nutrir simpatia pelo ex-pide Olímpio Chagas, apesar de abominar os valores que ele defende. Tentei compreender todas as personagens, para as escrever de forma mais fiel. Apesar de tudo, a Eva mulher de letras acabou por ganhar um papel especial, pelo que representa no romance mas também pelo facto de ter sido a personagem que me “ensinou” a liberdade de escrever sem barreiras, medos ou censuras.

8.       Como é que nasceu o seu gosto pela escrita?

Sempre tive maior facilidade na expressão escrita do que oral, o que acabou por me direcionar profissionalmente para o jornalismo. Mas um jornalismo de palavras escritas, nas revistas e nos jornais. Após muitos romances lidos e quase vinte anos de escrita jornalística, achei que talvez estivesse preparado para me lançar na ficção. E desde então que não consegui parar de romancear.

9.       Quais são as suas influências e porquê.

Gosto muito da escola norte-americana que passa por nomes como F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway ou os contemporâneos Philip Roth e Cormac McCarthy. Fascina-me a capacidade de contar histórias que podem ser complexas através de uma linguagem simples que é, ao mesmo tempo, muitíssimo cuidada. Mas em termos de universos e imaginários, sinto-me muito devedor da originalidade de José Saramago, da ironia de Eça de Queiroz ou das introspeções de Fernando Pessoa. 

10.   Quais são os planos para o futuro, mais livros?


Em termos de jornalismo, gostaria de implementar algumas ideias para rubricas nas áreas da gastronomia, das viagens ou das experiências. E também gostaria de voltar a fazer crítica de cinema. Quanto à escrita de romances, não tenho estado parado. E só espero ter condições para concretizar as ideias que se vão acumulando na cabeça.

sábado, 4 de maio de 2013

[Opinião] “Revolução Paraíso” de Paulo M. Morais (Porto Editora)



Ficha Técnica:

Págs.: 360
Capa: mole
PVP: 16,60 €

Sinopse:

Enquanto nas ruas se decide o futuro de um país, na tipografia de Adamantino Teopisto vive-se um misto de enredo queirosiano, suspense de um policial e ternura de uma novela: com sabotagens, amores proibidos e cabeças a prémio; tudo num ambiente de revolução apaixonado. O rebuliço generalizado tem repercussões no alinhamento do jornal e no dia a dia das gentes de São Paulo e do Cais do Sodré. A revolução é o tópico das conversas nas tascas, nas ruas, no prédio da Gazela Atlântica, contribuindo para o exacerbar das tensões latentes entre o patrão Adamantino e os funcionários. A vivacidade de uma estagiária, as manigâncias de um ex-PIDE foragido, os comentários de um taberneiro e as intromissões de um proxeneta e de uma prostituta agravam ainda mais a desordem ameaçadora que paira no ar. Nada foi igual na vida dos portugueses após a Revolução dos Cravos. Nada foi igual na vida da “família” Gazela Atlântica após o 25 de Abril.

Opinião:

Trinta e Nove anos passaram desde o 25 de Abril e já muito foi dito acerca desta época. Paulo M. Morais arriscou muito ao estrear-se com um romance num tema já tão explorado. “RevoluçãoParaíso” é o seu romance de estreia. Apesar disto ele consegue mostrar-nos um lado mais humano, mais ligado ao povo, da revolução.

O autor decidiu abordar, neste livro, os tempos conturbados pós-revolução. Na Gazeta Atlântica, ainda se vive em conflito com a adaptação a um mundo sem ditadura e sem censura, nesta época de transição um pequeno deslize podia levar a uma pessoa podia ser apelidada de reacionária.

Paulo M. Morais foi bastante fiel aos factos históricos conhecidos. Isto revela todo o trabalho de investigação que ele desenvolveu para o romance “Revolução Paraíso”.

As personagens que ele criou são bastante realistas e o autor conseguiu transmitir com sucesso os seus sentimentos e pensamentos ao leitor. Conseguimos sentir empatia com estas e os seus problemas, amores e desamores. Cada um estava preso às suas ideias e vivências. A maioria das personagens são masculinas, tendo apenas duas femininas a Eva e a Pandora, pelos seus nomes dão um anúncio de desgraça para o futuro das personagens do livro.

Quanto à evolução da acção, esta varia entre momentos mais rápidos e momentos mais parados, estes são as partes da Eva. Nesta parte, o autor tem um contacto mais directo com o leitor, alterando entre um narrador na terceira e um na primeira pessoa (Eva), nesta parte o autor é mais intimista e introspectivo. Mostrando assim a sua versatilidade de escrita e o seu domínio dos dois tipos de narradores, já que ambos não se encontram em conflito.

É um livro bastante interessante para todos os portugueses porque relembra os motivos pelos quais tanta gente lutou contra a ditadura.