segunda-feira, 11 de novembro de 2013

"Salto" de Liliana Novais


Sou invisível. Ninguém me vê, passo pelas ruas incógnito sem que os meus olhos se cruzem com os de outro ser humano. Sinto-me terrivelmente mal, sou um homem esfarrapado, um fragmento do que um dia fui. Sou uma memória sem qualquer tipo de interferência no dia-a-dia. Quem me conheceu já não se lembra de mim. Quem me vê olha através de mim e nem sequer me vê. Ninguém me conhece.

Agora estou no limiar, os meus pés estão a baloiçar indecisos. Seria tudo tão fácil, acabar com tudo terminar com o sofrimento, com aquele peso que me agarra a esta infeliz e dolorosa existência. É só com algum esforço, um passo apenas em direção ao esquecimento, à liberdade. Era tão bom ser finalmente livre, sem qualquer medo, sem qualquer tristeza, sem qualquer dor. Nem arrependimentos. Desejo ser livre, sem qualquer peso, sem qualquer tristeza.

É só um esforço, um passo, um momento.


Levanto o meu pé e abraço o meu destino.

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