Paulo M. Morais é um dos mais recentes autores Portugueses cujo livro tem tido sucesso em Portugal. "Revolução Paraíso" é o seu romance de estreia e já foi criticado aqui no Blog.
É com gosto que agradeço ao Paulo M. Morais pela sua disponibilidade.
1. O tema 25 de Abril tem sido muito utilizado
na literatura e explorado. Porque é que se baseou nesta época específica da
história de Portugal.
A ideia nasceu de uma série de álbuns com recortes
da imprensa que foram compilados pela minha avó no pós-25 de Abril. Quando ela
me passou o arquivo, comecei a germinar, devagarinho, a possibilidade de
aquelas notícias serem a base de um romance. A escrita do Revolução Paraíso
acabou também por preencher o meu vazio de memórias sobre aquele período tão
rico e inesgotável da nossa história.
2. Tal como podemos ver no livro todo o
processo criativo incluiu muita investigação, como é que encarou essa parte do
trabalho.
À medida que lia os recortes de imprensa, ia
apontando os acontecimentos que poderiam entrar no romance. Quis fugir um pouco
à política e procurei privilegiar os episódios de cariz mais popular e caricato.
Depois verifiquei e complementei a pesquisa inicial através da consulta de
outros livros, entre os quais destaco o extraordinário “Os Dias Loucos do PREC”.
3. De todas as etapas no processo criativo,
qual foi a que menos gostou.
As sucessivas revisões são tão fundamentais
quanto desesperantes. Houve alturas em que já não queria acrescentar ou retirar
uma vírgula! Mas depois lá reunia forças para reler e alterar o manuscrito.
Também foi complexo e trabalhoso tentar entrelaçar, no tempo e no espaço, os
acontecimentos históricos com as personagens ficcionais.
4. Como foi receber o sim da Porto Editora?
Extraordinário. Lutei muito por tentar ser
publicado numa editora de prestígio e não podia ter ficado mais contente quando
recebi a boa notícia. Nunca me hei de esquecer do dia em que fui recebido nas
instalações da Porto Editora e me deram as boas vindas como um novo autor da
casa. Só aquele momento provou-me que vale a pena batalhar pelos nossos
objetivos e sonhos.
5. Como é que organiza a sua vida pessoal e
profissional com a vida de escritor.
A área do jornalismo, como muitas outras, tem
sofrido uma enorme sangria nos últimos anos. Quando o trabalho escasseou,
decidi encarar a situação como uma oportunidade e lancei-me à escrita do meu
primeiro romance. Infelizmente, o tempo livre foi-se mantendo e eu continuei a
aproveitá-lo para escrever ficção, alimentando a paixão que entretanto
despertou.
6. Em que ponto a sua formação académica o
ajudou a escrever este romance.
Talvez no método com que abordei a escrita do
romance, apostando no trabalho árduo em vez de ficar simplesmente a aguardar
pela chegada da inspiração. Ser jornalista também me ajudou no campo da
pesquisa e no estabelecimento de prazos a cumprir. Mas também foi preciso
esquecer algumas regras da profissão, como a objetividade ou a escrita sintética,
para deixar respirar o aspirante a escritor.
7. Qual é a sua personagem preferida?
É ingrato ter de escolher uma personagem
favorita. Até consigo nutrir simpatia pelo ex-pide Olímpio Chagas, apesar de
abominar os valores que ele defende. Tentei compreender todas as personagens,
para as escrever de forma mais fiel. Apesar de tudo, a Eva mulher de letras
acabou por ganhar um papel especial, pelo que representa no romance mas também pelo
facto de ter sido a personagem que me “ensinou” a liberdade de escrever sem
barreiras, medos ou censuras.
8. Como é que nasceu o seu gosto pela escrita?
Sempre tive maior facilidade na expressão
escrita do que oral, o que acabou por me direcionar profissionalmente para o
jornalismo. Mas um jornalismo de palavras escritas, nas revistas e nos jornais.
Após muitos romances lidos e quase vinte anos de escrita jornalística, achei
que talvez estivesse preparado para me lançar na ficção. E desde então que não
consegui parar de romancear.
9. Quais são as suas influências e porquê.
Gosto muito da escola norte-americana que
passa por nomes como F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway ou os contemporâneos
Philip Roth e Cormac McCarthy. Fascina-me a capacidade de contar histórias que
podem ser complexas através de uma linguagem simples que é, ao mesmo tempo, muitíssimo
cuidada. Mas em termos de universos e imaginários, sinto-me muito devedor da
originalidade de José Saramago, da ironia de Eça de Queiroz ou das introspeções
de Fernando Pessoa.
10. Quais são os planos para o futuro, mais
livros?
Em termos de jornalismo, gostaria de
implementar algumas ideias para rubricas nas áreas da gastronomia, das viagens ou
das experiências. E também gostaria de voltar a fazer crítica de cinema. Quanto
à escrita de romances, não tenho estado parado. E só espero ter condições para concretizar
as ideias que se vão acumulando na cabeça.
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