quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Entrevista à Carina Rosa.


  • A primeira entrevista aqui no blog vai ser à escritora Carina Rosa, autora do livro "O Intruso", editado pela Chiado Editora. o qual foi criticado aqui no Blog. E também está em passatempo. Vamos passar à entrevista.  

    O Sofá dos Livros
    Como te sentes ao ver o teu primeiro livro editado?
    Carina Rosa

    É uma satisfação e um orgulho muito grande. Na verdade, nunca esperei chegar até aqui quando comecei a escrever a primeira linha da obra. Nem pensei que fosse tudo tão rápido, desde o início do livro à sua publicação. Quando vi a capa do livro pela primeira vez, nem me pareceu real e questionei-me como era possível ter chegado até ali. É gratificante ver uma história que criei a partir de uma folha de papel em branco ser lançada para o mundo e vê-la reconhecida e apreciada.

    O Sofá dos Livros

    Um sonho tornado realidade então. Como te surgiu a ideia para este livro?

    Carina Rosa

    Sem dúvida. Desde criança que gosto de escrever. Costumava dizer à minha mãe, ainda muito nova, que queria ser escritora. Recordo-me de ela me dizer que isso não era de todo uma profissão estável e que eu devia escolher algo ligado às letras. Por isso acabei por seguir o curso de Ciências da Comunicação, e também pelo facto de trabalhar em jornalismo de imprensa, acabei por ficar inevitavelmente ligada à literatura. Acho que podia ter começado muito mais cedo, apenas não acreditava em mim o suficiente. Desta vez, decidi de facto seguir este sonho e fiquei surpreendida quando o vi concretizado.

    Quando comecei a escrever a obra, estava um pouco perdida quanto ao tema. Só sabia que queria escrever. Depois de escrever algumas linhas de pensamentos que me iam surgindo, completamente aleatórios, sem um rumo definido, comecei a pensar naquilo que mais me fascinava. Naquilo que eu mais gostava de pensar, falar e escrever. Sempre fui fã de romances, mas também do oculto, do desconhecido, do suspense. E acabei por perceber que só poderia começar por uma junção de todas essas vertentes. A partir daí, a história foi surgindo e acabou por se tornar num vício tão grande que acabei por terminá-la no prazo de um mês e meio.

    O Sofá dos Livros

    O título "O intruso" pode ser de uma forma tomado em dois sentidos. O rodrigo como invasor da vida de sara, ou o Martim como invasor daquela relação doentia. Qual deles para ti é o intruso?

    Carina Rosa

    É uma pergunta engraçada e pertinente. De facto, quando pensei no título, tinha em mente «A Sombra», porque para mim o Rodrigo não era mais do que isso. Escolhi «O Intruso» porque era um título mais pesado, mais forte, e na verdade, dentro de mim tive sempre a ideia de que o Rodrigo não era de todo um intruso, nem deveria ser. Porque para ele, ele está sempre, ao longo da história, a ocupar o lugar que sempre lhe pertenceu. Neste caso, o intruso seria o Martim, mas dadas as cricunstâncias e a própria decisão da Sara, ao escolher um caminho e um homem para amar, o intruso não poderia ser outra pessoa senão o Rodrigo. E ao longo da história, vai-se percebendo que afinal de contas, o Rodrigo é a personagem a mais. A carta fora do baralho. Vai-se percebendo que apesar de tudo aquilo que o liga à Sara, ele é apenas o passado. Não o presente.

    O Sofá dos Livros

    A tua experiência enquanto jornalista auxiliou-te no processo criativo?

    Carina Rosa

    Talvez um pouco, no que toca à fluidez da escrita e do pensamento. No entanto, o jornalismo é uma profissão muito fechada, em que não há espaço para imaginar, para criar. No jornalismo, temos de basear-nos em factos reais e seguir concretamente as regras do código deontológico. Não há espaço para a ficção. Basicamente, é um processo de investigação sobre alguma coisa que outra pessoa criou. Ao escrever, sinto uma liberdade impossível de sentir no jornalismo.

    O Sofá dos Livros

    São complementares então. Baseaste-te nalguma tragédia conhecida?

    Carina Rosa

    Não. Toda a história é fictícia, embora algumas personagens tenham um pouco de mim, principalmente a Sara. Um simples ponto da personalidade ou um mero pensamento. O que seja. É interessante que algumas pessoas já me disseram que lhes pareceu estranho conhecerem-me como me conhecem e imaginarem algumas partes da história saírem da minha cabeça (risos). No entanto, outras pessoas já me disseram que me encontraram em algumas partes da história. O que significa que algumas pessoas conhecem um lado de nós, outras conhecem um outro lado e apenas algumas conhecem quase tudo. Porque penso que apenas nós mesmos nos conhecemos completamente.

    O Sofá dos Livros

    Já tens algum novo livro na gaveta pronto para ver a luz do dia?

    Carina Rosa

    Sim. Já tenho vários (risos). Neste momento, estou a escrever o meu quarto romance e estou a gostar muito. Mas cada coisa a seu tempo. O segundo e o terceiro já estão nas mãos dos meus mais recentes agentes, o coordenador do jornal O ALGARVE, onde trabalho, e a ex-directora desse mesmo órgão de comunicação social, que me apoiaram sempre desde o primeiro momento, no que toca a críticas e melhorias das minhas obras. É claro que estou ansiosa que vejam a luz do dia, mas quero deixar assentar esta primeira obra. Quero que seja conhecida, reconhecida e apreciada pelos leitores. E para isso, preciso de tempo. Não quero lançar obras em cima de outras. Quero fazer as coisas com tempo e rigor, porque só assim posso ter sucesso.

    O Sofá dos Livros

    O final do livro deixa a entender que algo mais vai acontecer. sentes vontade de revisitar as personagens?

    Carina Rosa

    Outra pergunta interessante. Quando terminei a obra, não tive qualquer vontade de continuá-la. Acho que certas coisas devem ficar assim mesmo. No ar, no suspense, indeterminadas. Na verdade, acho que há uma certa magia nisso. No facto de ficar ao critério de cada um. Na imaginação de cada um. É claro que cada história é uma história e certas histórias não podem ter outro destino senão terminar definitivamente. Quando terminei «O Intruso», não achei que fosse o caso desta. E a opinião entre o continuar e o não continuar divide-se também entre os meus dois agentes, que têm opiniões opostas. Neste momento, a pedido de algumas pessoas, que fazem questão em ver a obra continuada, talvez leve esse pensamento em consideração. Um dia. Mas para ser sincera, tenho tantas histórias na minha mente que gostaria de ver escritas que o meu desejo é escrever sempre coisas diferentes.

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