A primeira entrevista aqui no blog vai ser à escritora Carina Rosa, autora do livro "O Intruso", editado pela Chiado Editora. o qual foi criticado
aqui no Blog. E também está em
passatempo. Vamos passar à entrevista.
O Sofá dos Livros
Como te sentes ao ver o teu primeiro livro editado?
Carina
Rosa
É uma satisfação e um orgulho muito grande. Na verdade, nunca esperei
chegar até aqui quando comecei a escrever a primeira linha da obra. Nem pensei
que fosse tudo tão rápido, desde o início do livro à sua publicação. Quando vi
a capa do livro pela primeira vez, nem me pareceu real e questionei-me como era
possível ter chegado até ali. É gratificante ver uma história que criei a
partir de uma folha de papel em branco ser lançada para o mundo e vê-la
reconhecida e apreciada.
O Sofá dos Livros
Um sonho tornado realidade então. Como te surgiu a ideia para este livro?
Carina
Rosa
Sem dúvida. Desde criança que gosto de escrever. Costumava dizer à minha
mãe, ainda muito nova, que queria ser escritora. Recordo-me de ela me dizer que
isso não era de todo uma profissão estável e que eu devia escolher algo ligado
às letras. Por isso acabei por seguir o curso de Ciências da Comunicação, e
também pelo facto de trabalhar em jornalismo de imprensa, acabei por ficar
inevitavelmente ligada à literatura. Acho que podia ter começado muito mais
cedo, apenas não acreditava em mim o suficiente. Desta vez, decidi de facto
seguir este sonho e fiquei surpreendida quando o vi concretizado.
Quando comecei a escrever a obra, estava um pouco perdida quanto ao tema.
Só sabia que queria escrever. Depois de escrever algumas linhas de pensamentos
que me iam surgindo, completamente aleatórios, sem um rumo definido, comecei a
pensar naquilo que mais me fascinava. Naquilo que eu mais gostava de pensar,
falar e escrever. Sempre fui fã de romances, mas também do oculto, do
desconhecido, do suspense. E acabei por perceber que só poderia começar por uma
junção de todas essas vertentes. A partir daí, a história foi surgindo e acabou
por se tornar num vício tão grande que acabei por terminá-la no prazo de um mês
e meio.
O Sofá dos Livros
O título "O intruso" pode ser de uma forma tomado em dois
sentidos. O rodrigo como invasor da vida de sara, ou o Martim como invasor
daquela relação doentia. Qual deles para ti é o intruso?
Carina Rosa
É uma pergunta engraçada e pertinente. De facto, quando pensei no título,
tinha em mente «A Sombra», porque para mim o Rodrigo não era mais do que isso.
Escolhi «O Intruso» porque era um título mais pesado, mais forte, e na verdade,
dentro de mim tive sempre a ideia de que o Rodrigo não era de todo um intruso,
nem deveria ser. Porque para ele, ele está sempre, ao longo da história, a
ocupar o lugar que sempre lhe pertenceu. Neste caso, o intruso seria o Martim,
mas dadas as cricunstâncias e a própria decisão da Sara, ao escolher um caminho
e um homem para amar, o intruso não poderia ser outra pessoa senão o Rodrigo. E
ao longo da história, vai-se percebendo que afinal de contas, o Rodrigo é a
personagem a mais. A carta fora do baralho. Vai-se percebendo que apesar de
tudo aquilo que o liga à Sara, ele é apenas o passado. Não o presente.
O Sofá dos Livros
A tua experiência enquanto jornalista auxiliou-te no processo criativo?
Carina Rosa
Talvez um pouco, no que toca à fluidez da escrita e do pensamento. No
entanto, o jornalismo é uma profissão muito fechada, em que não há espaço para
imaginar, para criar. No jornalismo, temos de basear-nos em factos reais e
seguir concretamente as regras do código deontológico. Não há espaço para a
ficção. Basicamente, é um processo de investigação sobre alguma coisa que outra
pessoa criou. Ao escrever, sinto uma liberdade impossível de sentir no
jornalismo.
O Sofá dos Livros
São complementares então. Baseaste-te nalguma tragédia conhecida?
Carina Rosa
Não. Toda a história é fictícia, embora algumas personagens tenham um pouco
de mim, principalmente a Sara. Um simples ponto da personalidade ou um mero
pensamento. O que seja. É interessante que algumas pessoas já me disseram que
lhes pareceu estranho conhecerem-me como me conhecem e imaginarem algumas
partes da história saírem da minha cabeça (risos). No entanto, outras pessoas
já me disseram que me encontraram em algumas partes da história. O que
significa que algumas pessoas conhecem um lado de nós, outras conhecem um outro
lado e apenas algumas conhecem quase tudo. Porque penso que apenas nós mesmos
nos conhecemos completamente.
O Sofá dos Livros
Já tens algum novo livro na gaveta pronto para ver a luz do dia?
Carina
Rosa
Sim. Já tenho vários (risos). Neste momento, estou a escrever o meu quarto
romance e estou a gostar muito. Mas cada coisa a seu tempo. O segundo e o
terceiro já estão nas mãos dos meus mais recentes agentes, o coordenador do
jornal O ALGARVE, onde trabalho, e a ex-directora desse mesmo órgão de
comunicação social, que me apoiaram sempre desde o primeiro momento, no que
toca a críticas e melhorias das minhas obras. É claro que estou ansiosa que
vejam a luz do dia, mas quero deixar assentar esta primeira obra. Quero que
seja conhecida, reconhecida e apreciada pelos leitores. E para isso, preciso de
tempo. Não quero lançar obras em cima de outras. Quero fazer as coisas com
tempo e rigor, porque só assim posso ter sucesso.
O Sofá dos Livros
O final do livro deixa a entender que algo mais vai acontecer. sentes
vontade de revisitar as personagens?
Carina
Rosa
Outra pergunta interessante. Quando terminei a obra, não tive qualquer
vontade de continuá-la. Acho que certas coisas devem ficar assim mesmo. No ar,
no suspense, indeterminadas. Na verdade, acho que há uma certa magia nisso. No
facto de ficar ao critério de cada um. Na imaginação de cada um. É claro que
cada história é uma história e certas histórias não podem ter outro destino
senão terminar definitivamente. Quando terminei «O Intruso», não achei que
fosse o caso desta. E a opinião entre o continuar e o não continuar divide-se
também entre os meus dois agentes, que têm opiniões opostas. Neste momento, a
pedido de algumas pessoas, que fazem questão em ver a obra continuada, talvez
leve esse pensamento em consideração. Um dia. Mas para ser sincera, tenho tantas
histórias na minha mente que gostaria de ver escritas que o meu desejo é
escrever sempre coisas diferentes.
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